domingo, 28 de outubro de 2007

'don't worry be happy'

'the cinematics' em som de fundo, o mar até onde o olhar consegue alcançar, a areia entranhada entre os dedos dos pés, o sol a queimar o rosto, os cabelos a esconderem o olhar, os ténis ali parados, sem pés dentro, o cpp dentro do saco, os lápis e as canetas guardadas, os óculos de sol postos.
onde estás tu, outono, que tardas em chegar? estamos no final de outubro e a praia ainda nos chama. ainda queremos correr descalços pela areia, ficar a 'torrar' ao sol como frangos no espeto, dar mergulhos no mar sem sentirmos arrepios de frio ao entrar. onde estás tu, outono?
e, neste fim de tarde, sem que o outono tenha dito olá! - mais parece o fim do verão ... -, com 'the cinematics' ainda a soar, olho o mar, cheio de barquinhos, olho a praia, cheia de crianças a correr, a brincar, a gritar, a rir, sinto os pés a pisar a areia e penso que tudo vai ficar bem. tudo vai ficar bem. e no meio de um sorriso, espontâneo, penso que, para além disto não há nada. e que isto, este pequeno momento, estas pequenas sensações, estas pequenas imagens, valem mesmo mais do que todas as palavras que eu consiga escrever...

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

'five minutes of everything'

abro a porta do carro.... o relógio marca oito horas da noite. o sol já abandonou o dia e a escuridão abraçou o céu. entro no carro e fecho as portas. procuro o cd na mala cheia. ligo o carro. espero uns momentos. faço tudo calmamente... é tarde, mas de repente não sinto pressa de ir para casa. não sinto pressa para ir para lado nenhum. mas não posso ficar ali.
acendo as luzes, ponho o cinto, ligo o ar condicionado, que lá fora começam a soprar os primeiros ventos do outono. fecho as portas e arranco. o pensamento longe da condução. vou metendo as mudanças automaticamente, como se não fosse eu a conduzir. vou seguindo o caminho tantas vezes percorrido que até já o carro sabe a rua em que tenho de voltar, a saída da rotunda, a saída da auto-estrada, o sinal que tem de esperar que fique verde antes de avançar.
o conta-quilómetros diz que eu já fiz quase trinta e quatro mil e oitocentos quilómetros e eu nem noto. o tempo passa tão depressa... o hoje ainda não é e já está a ser amanhã. e o amanhã ainda não chegou e já está a terminar... olho lá para fora e não sei o que pensar. se nos processos que me esperam na segunda, se nas diligências que vou ter de fazer, se no turno que vai começar. olho lá para fora e sei que só penso numa coisa. mas tento, a custo desviar o pensamento. faço todos os possíveis, todos os impossíveis, faço o pensamento dar nós e esquecer que aquelas ideias existem, que estão ali encurraladas.
aumento o volume da música. tento imaginar uma parede bordeaux ou azul ou amarela ou mesmo cor-de-laranja, mas não surge nada. a minha mente aparece agarrada apenas àquele pensamento, como se nada mais existisse para além dele. tento concentrar-me na condução, mas nem isso. ponho as mãos no volante, aumento a velocidade. olho lá para fora e não consegui ver para além... e no ar soam as palavras tristes a dizerem, como um apelo... ou uma súplica... 'give me please five minutes of everything'... e eu, que vou tentando controlar-me, esquecer-me, concentrar-me, inspiro profundamente, faço um sorriso gigantesco e forçado, e começo a cantar...

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

'it's raining again'

estou só. olho-me ao espelho e vejo a solidão abraçar-me. eu sei que aquela, ali reflectida, não sou eu. é a sombra do meu ser. não sou eu. não posso ser eu. não quero ser eu. mas a imagem do espelho é demasiado clara e límpida para ser diferente daquela que eu vejo. fecho os olhos. não quero ver. não quero saber. não quero, não quero. pareço uma criança pequena que bate o pé quando as coisas não são do jeito que ela quer.
estou só. sinto-me demasiado só. sinto que perdi uma luta, se é que algum dia estive na corrida... sinto que perdi a batalha para deixar esta solidão... e afundei-me neste mar de sombras e sonhos perdidos... afundei-me num mar de pesadelos incessantes e assustadores.
abro os olhos e volto a olhar o espelho. digo a mim mesma que aquela que ali está não sou eu. eu não choro quando as coisas não acontecem como eu quero... eu levanto a cabeça, faço um sorriso e tento mais uma vez... e aquela que está ali, reflectida naquela pedaço de espelho, não sorri, não levanto a cabeça... aquela que está reflectida no espelho não contem as lágrimas, nem levanta a cabeça para enfrentar o próximo obstáculo... e eu não sou aquela. eu não desisto à primeira tempestade, ao primeiro abanão do barco...
olho o espelho e sinto a solidão... demasiada solidão para uma pessoa só... ou a minha companheira para a vida ???
vou à janela... as lágrimas ainda a correrem pelo rosto... lá fora o sol brilha. a chuva nunca mais vem... mas aqui dentro, aqui que ninguém vê, é só tempestade... sem bonança.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

'neon bible'

apago a luz. descalço as sandálias. ponho os phones nos ouvidos. fecho a porta. de repente fiquei só. de repente sorrio. de repente, eu, no meu mundo pequenino... a navegar. ando à procura do sítio onde colocar os pés sem molhar demasiado as calças... mas acabo sempre a tropeçar...
fecho os olhos. fecho-me em mim. quero que me encontres. mas não quero que me encontres assim. não quero que me vejas assim. não quero que saibas que tenho de fechar os olhos, fechar-me no meu mundo. não quero que saibas o meu truque. não quero que descubras de onde vêm os meus sorrisos. e as minhas lágrimas.
apago a luz. fecho os olhos. pouso a cabeça sobre os lençóis. está na hora de dormir. vou apagar a música. e dizer boa noite.

domingo, 21 de outubro de 2007

'encosta-te a mim'

[depois de uma noite de insónia... logo pela manhã não resisti a voltar a este meu cantinho... não tenho nada para escrever de novo... as palavras que deixei aqui ontem ainda ressoam dentro de mim... e tudo o que sinto está meio confuso... e eu sinto-me meio perdida, a naufragar em terra... talvez, por isso, me pus a ouvir esta música... ou não. mas ela estava a soar repetidamente aos meus ouvidos sem que estivesse realmente a tocar... daí que ela tivesse de vir parar aqui...]


'Encosta-te a mim'
Jorge Palma

Encosta-te a mim
nós já vivemos cem mil anos
Encontas-te a mim
talvez eu esteja a exagerar
Encosta-te a mim
dá cabo dos teus desenganos
não queiras ver quem eu não sou
deixa-me chegar
chegado da guerra
fiz tudo p'ra sobreviver
em nome da terra
no fundo p'ra te merecer
recebe-me bem
não desencantes os meus passos
faz de mim o teu herói
não quero adormecer
tudo o que eu vi estou a partilhar contigo
o que não vivi hei-de inventar contigo
sei que não sei às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem
Encosta-te a mim

Enconsta-te a mim
desatinamos tantas vezes
vizinha de mim
deixa ser meu o teu quintal
Recebe esta pomba
que não está armadilhada
foi comprada, foi roubada
seja como for...
Eu venho do nada
porque arrasei o que não quis
em nome da estrada
onde só quero ser feliz
Enrosca-te a mim
vai desarmar a flor queimada
vai beijar o homem bomba
quero adormecer
tudo o que eu vi estou a partilhar contigo
e o que não vivi um dia hei-de inventar contigo
sei que não sei às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem
Encosta-te a mim
Encosta-te a mim
quero-te bem
Encosta-te a mim...

sábado, 20 de outubro de 2007

'closer'

faço tudo para me esquecer. lavo os dentes, dobro a roupa, arrumo as coisas, bebo água, dou duas voltas pela casa. mas depois acabo aqui. a sentir o peso e o cansaço de uma noite mal dormida, de um dia entediante. acabo aqui, a olhar para os lençóis. acabo aqui, onde todos os dias terminam... e depois, porque as mãos e a cabeça nada mais têm com que se ocupar, venho para aqui, à espera que as palavras, misturadas com as lágrimas, me façam esquecer.
faço tudo para esquecer. até desistir... desistir de esquecer. e no meio das minhas palavras, de que nem tudo começa com um beijo... mas podia terminar... as lágrimas, num segundo, não se contêm em cair... e a música, que vai dizendo 'i never leave you, just need to get closer, closer' parece, de repente, demasiado ridícula... mas nem assim consigo sorrir...

terça-feira, 16 de outubro de 2007

'dear darkness'


abro a janela. lá fora vive o mundo. mas eu esmoreço aqui dentro. congelo e descongelo. animo-me e desanimo-me. entendo e confundo-me. encontro-me e perco-me. vivo e morro. abro a janela para ver a vida passar lá do outro lado. para ver outras vidas caminharem, sem direcção e sem sentido. todas em busca de uma qualquer coisa que embeleze as suas vidas. à procura sem encontrarem.
abro a janela. lá fora o sol aquece. o sol come a cor da toalha pendurada no estendal. o mundo passa lá fora. e eu, deste lado da janela, onde o sol não entra e em que se ouve uma voz entoar 'dear darkness, dear darkness', vou tentando encontrar o caminho para chegar lá fora, poder ver a luz do sol e andar também, no meu passo mais descontraído, à procura de não sei o quê, sem qualquer esperança de o encontrar.

domingo, 14 de outubro de 2007

'superstars II'

ligo a aparelhagem e carrego na tecla oito. já sei que a seguir vou ouvir o assobio e depois os primeiros acordes e, no fim as palavras 'your heart is broken and you don't seem to mind i guess it happen a little to many times, to many times'. não consigo deixar de carregar na tecla do volume. vou aumentando o som, devagarinho... até chegar o ponto em que os vizinhos me vão querer expulsar de casa... aí paro. e volto a aumentar.
tiro os sapatos e sinto os dedos pousarem no chão, um por um. depois ato o cabelo. e, como já não me consigo controlar... desato numa dança sem sentido. salto, levanto os braços, troco os pés, canto em altos berros, fecho os olhos e esqueço-me. esqueço tudo. esqueço tudo o que está para além desta música, da minha sala, da minha dança maluca. quero ficar presa a esta dança maluca por esta noite. ouvir vezes e vezes sem conta esta música e não me conseguir conter. não me querer conter. troco tudo. os braços. as pernas. abano a cabeça. solto o cabelo. dou uma gargalhada. e não me contenho. não estou aqui. estou além. estou aí. podia estar aí. ou não. ou podia estar acolá. mas a verdade é que não estou mesmo em lado nenhum... talvez esteja apenas nesta dança amalucada que de repente me consome, me faz bem e me liberta. talvez esteja neste abanar de cabeça que eu não consigo controlar. ou neste fechar de olhos... ou na minha voz. mas, a verdade, é que não estou em lado nenhum... e mesmo esta canção, a minha dança esquisita e a minha voz desafinada não me fazem sair deste chão... que os meus pés sentem...



em segunda fila...

chego a casa tarde. rio-me de chegar a casa tarde. os olhos estão cansados, as pernas estão perras e os pés dizem-me que dancei demasiado. mas consigo rir-me. mesmo dos pés doridos, dos olhos que quase já nem consigo abrir e do facto de ser tarde, demasiado tarde.
deito-me sobre os lençóis e enrolo-me. de repente já não tenho vontade de rir. já não quero saber que é tarde e que cometi uma loucura. já não quero saber dos pés demasiado doridos nem da noitada. de repente os olhos já não estão cansados e o sono já não vem.
pego nos phones e carrego no play. a música inunda-me os ouvidos e eu fecho os olhos. no meio da escuridão, no meio da minha loucura, começo a chorar. e, no meio das minhas lágrimas consigo dar uma gargalhada. sei que a loucura de repente me apanhou... e, no meio do silêncio sem luz, misturado com o meu cansaço, as minhas lágrimas e o meu riso descontrolado, não consigo deixar de pensar em ti.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

'an end has a start'

sento-me na borda do muro. estou à espera de ti mas tu não vens. já disseste que não vens. mas, dentro de mim resta uma esperança semi-morta que ainda acha que, por um qualquer milagre misterioso que nem eu própria entendo, tu vens. talvez por isso me sente ali naquele muro... nunca fui muito dada a esperar de pé. olho para os lados. ninguém. em frente. ninguém na mesma. ainda viro a cabeça para trás. mas é igual. de ti não há sinal.
sorrio. nem sei o que pareço, ali, sentada na borda do muro, à tua espera, que sei que não vens. tenho vontade de dar uma gargalhada, daquelas que se ouvem a dois quilómetros de distância, mas contenho-me. fecho os olhos por um instante. o sol dos últimos dias de verão a queimar-me a cara. o cheiro da relva que acabou de ser regada. lá ao longe, bem ao longe, o som da água a correr e das crianças a gritar umas com as outras. depois, alguém me toca. e eu, devagarinho abro os olhos e tu estás ali... às vezes, digo-te, tudo podia começar com um beijo...