segunda-feira, 31 de março de 2008

' feeling good'

chego a casa com a mala pesada. é tarde e já não sinto vontade de fazer nada para além de me estender no sofá, fechar os olhos e deixar-me levar pelo mundo dos sonhos. mas ainda consigo arrastar-me até à cozinha, lavar a chávena que ficou do pequeno-almoço engolido à pressa, abrir a porta do frigorífico e ficar a olhar para as prateleiras cheias de coisas que o meu estômago rejeita. e se fosse aquilo? não, talvez aquilo? mas o meu estômago vai dizendo não, não, não e não. não há forma de contornar a questão, a inexistência de fome a esta hora tardia e um frigorífico cheio de coisas apetecíveis para qualquer outro dia menos para hoje. sorte do estômago é que não consigo vê-lo. senão... talvez passasse a ser mais colaborador e menos picuinhas.
chego a casa tarde com vontade de cair em cima da cama, cobrir-me com o edredon, que à noite ainda faz muito frio, e esvaziar o pensamento de todos os dilemas. às vezes penso que não sou capaz de não pensar em nada. há sempre qualquer coisa a passear no pensamento. às vezes duas. outras três.
chego a casa tarde. na televisão não dá nada de jeito. é uma série que repete pela quinta vez, um programa de debate que rebate os mesmos problemas, uma série de comédia sem graça nenhuma. dou um suspiro, faço um esforço, apago a televisão e, arrastando-me... conduzo a minha alma problemática até ao quarto onde, finalmente, pouso a cabeça sobre os lençóis e esqueço tudo... ou quase tudo...

segunda-feira, 24 de março de 2008

'os meninos de huambo'

'Os meninos à volta da fogueira / Vão aprender coisas de sonho e de verdade / Vão aprender como se ganha uma bandeira / Vão saber o que custou a liberdade'

foi isso que senti. um voltar à escola. todos em volta da fogueira a esticar as mãos. a ver as mãos dos outros também esticadas em direcção ao fogo que arde. é como o poema de luís de camões... 'amor é fogo que arde sem se ver'. mas aqui o que procuramos, todos na rodinha, com as nossas mãos estendidas para o fogo, é aquecer as mãos.
lá fora, o frio espalha-se. cobre cada metro da rua, da parede coberta de musgo, das janelas dos carros. o gelo espalha-se. a chuva cai, depois o granizo, finalmente a neve. nós continuamos com as mãos estendidas, os pés estendidos, bem apertadinhos na nossa rodinha, a tentar não deixar entrar o frio que lá fora espreita. tenho vontade de cantar os 'meninos à volta da fogueira', mas só consigo rir. mas rir de quê? do quê? só se for da vida. do tempo. rir por rir, acho. ou rir porque não há razão para chorar. ou rir simplesmente.
estendo as mãos. vou virando-as como se fossem frangos no espeto. continuam frias. diz o ditado 'mãos frias, coração quente'. será??

domingo, 2 de março de 2008

'canção simples'

saio à rua. o sol brilha. é estranho, ver o sol brilhar assim com tanta vontade num dia de março... até parece que de repente o s. pedro se barulhou todo e se esqueceu que ainda não veio a primavera e que o inverno ainda impera... talvez o s. pedro esteja apaixonado! e para presentear a sua amada vai numa de deixar a descoberto o sol e mandar calar a chuva e as lágrimas de um céu triste...
saio à rua. livro dentro da carteira. óculos de sol na cara. vou caminhando. conto os passos. um, dois, três, quatro. depois esqueço-me. olho em volta. as pessoas atarefadas nas suas pequenas vidas. andamos todos à procura do mesmo? ou andamos todos à procura de uma maneira de vivermos sorridentes sem cairmos no abismo que fica ali mesmo ao nosso lado? olho em volta. a verdade é que andamos todos a correr. de um lado para o outro. porque nos esperam no emprego. porque nos esperam em casa. porque nos esperam no restaurante. porque nos esperam no cinema, no teatro, no que seja! andamos sempre a dar corda aos pés. hoje, eu deixei a corda em casa e decidi, simplesmente, andar.
saio à rua. para ver as pessoas. para não ver ninguém e ver toda a gente. para ter a certeza de que os pés ainda sabem andar e não desconhecem já essa arte... afinal, ainda consigo. não fui ainda vencida pelo stress do dia a dia. ainda consigo andar... e é aí que chego ao meu destino. é aqui que fico. abro o meu livro e digo adeus ao mundo. o sol a bater-me na cara. não parece coisa de março... mas, encolho os ombros, viro a cara que nem um girassol, fecho os olhos, respiro, e volto a entrar no meu livro.