sexta-feira, 26 de outubro de 2007

'five minutes of everything'

abro a porta do carro.... o relógio marca oito horas da noite. o sol já abandonou o dia e a escuridão abraçou o céu. entro no carro e fecho as portas. procuro o cd na mala cheia. ligo o carro. espero uns momentos. faço tudo calmamente... é tarde, mas de repente não sinto pressa de ir para casa. não sinto pressa para ir para lado nenhum. mas não posso ficar ali.
acendo as luzes, ponho o cinto, ligo o ar condicionado, que lá fora começam a soprar os primeiros ventos do outono. fecho as portas e arranco. o pensamento longe da condução. vou metendo as mudanças automaticamente, como se não fosse eu a conduzir. vou seguindo o caminho tantas vezes percorrido que até já o carro sabe a rua em que tenho de voltar, a saída da rotunda, a saída da auto-estrada, o sinal que tem de esperar que fique verde antes de avançar.
o conta-quilómetros diz que eu já fiz quase trinta e quatro mil e oitocentos quilómetros e eu nem noto. o tempo passa tão depressa... o hoje ainda não é e já está a ser amanhã. e o amanhã ainda não chegou e já está a terminar... olho lá para fora e não sei o que pensar. se nos processos que me esperam na segunda, se nas diligências que vou ter de fazer, se no turno que vai começar. olho lá para fora e sei que só penso numa coisa. mas tento, a custo desviar o pensamento. faço todos os possíveis, todos os impossíveis, faço o pensamento dar nós e esquecer que aquelas ideias existem, que estão ali encurraladas.
aumento o volume da música. tento imaginar uma parede bordeaux ou azul ou amarela ou mesmo cor-de-laranja, mas não surge nada. a minha mente aparece agarrada apenas àquele pensamento, como se nada mais existisse para além dele. tento concentrar-me na condução, mas nem isso. ponho as mãos no volante, aumento a velocidade. olho lá para fora e não consegui ver para além... e no ar soam as palavras tristes a dizerem, como um apelo... ou uma súplica... 'give me please five minutes of everything'... e eu, que vou tentando controlar-me, esquecer-me, concentrar-me, inspiro profundamente, faço um sorriso gigantesco e forçado, e começo a cantar...

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