quarta-feira, 21 de novembro de 2007

'the weight of the world'

London, 3, 2, 1... - A crónica de uma viagem

são cinco da manhã quando o despertador toca. não é inesperado e os meus olhos já estão abertos. a mala ainda aberta, à espera das últimas roupas. o porta-moedas, à espera de notas de outro país... ainda sinto uma certa vontade de ficar ali, debaixo dos cobertores, onde está quentinho, mas o bilhete ali... à minha espera, impele-me a deixar de lado essas ideias e a levantar-me.
demoro tempo a fazer as coisas de manhã. é sempre assim. o tempo é sempre curto para tantas coisas que há para fazer... faço tudo em silêncio... que ninguém diga nada. vou ordenando as ideias, as coisas para fazer, as compras a não esquecer. mas o silêncio impera. fecho os olhos, inspiro e sorrio. vou viajar.

chego ao aeroporto e começam as primeiras revistas. os braços abertos. o verificar todas as coisas. o 'muito obrigado' no final da revista. o passar pelo free shop sem comprar nada, só de olhos fixos no placard para ver em que porta é que tudo se inicia. a espera acontece. os olhares entre passageiros entrecruzam-se, cada um a tentar adivinhar os pensamentos uns dos outros, as ideias dos outros, as emoções dos outros. depois a voz roufenha ouve-se no fundo a dizer 'voo TAP 345, com destino a Londres, vai começar a entrada no avião'. as pessoas aglomeram-se em volta daquele balcão, mostrando os seus bilhetes e tentando ser os primeiros. onde está a ordem? as filas? ali ninguém quer saber! o que é importante é chegar lá... eu encolho os ombros e deixo passar toda a gente... não quero saber... vamos lá chegar todos, não é mesmo?

o tempo passa devagar dentro do avião. as pessoas entretém-se com as coisas que têm mais à mão. uma revista distribuída antes da partida, um livro que foi enfiado à força na mala, um livrinho cheio de sudokus ou sopas de letras para entreter o espírito e matar o tempo. eu tiro o meu livrinho, em inglês - a entrar no espírito e na onda de Londres -, as pastilhas e sento-me. ponho o cinto, encosto as costas bem na cadeira e tento espremer as pernas naquele espaço exíguo que nos permitem utilizar. ouvem-se as primeiras palavras do capitão. 'bom dia!' e as normais recomendações de segurança. não vejo nada. acho que seria capaz de repetir de cor todas aquelas indicações. será que alguma daria resultado em situação de emergência? olho para os meus companheiros de viagem e ninguém olha para os ecrans onde vão passando as imagens... 'faça isto, faça aquilo, depois acontecerá isto e cairão as máscaras e debaixo do banco está o colete de segurança'. não sei se nos deixámos de preocupar com a nossa segurança ou se, simplesmente, deixámos de acreditar que possa não ser seguro, ou melhor, que possa vir a acontecer alguma coisa em Portugal que ponha em causa a nossa segurança... andamos por aquela máxima (que estou a inventar??) de que somos demasiado pequeninos... aliás, como um de nós diria: 'quem é que nos quereria atacar??'

a viagem corre... não voa. demora. mas depois de umas duas horas, piso solo inglês. tenho imensas ideias... mas já só penso em ver os meus pequenos. os meus sobrinhos. ainda falta. só mais um pouco. mostrar o bilhete de identidade, dizer não sei quantos 'good afternoon', passar por outras pessoas também elas cheias de pressa, seguindo as indicações de 'bagage reclaim', apanhar a mala que roda na passadeira giratória e que traz presa a etiqueta com o nosso nome, dirigir-me para a ala do 'nothing to declare' e, finalmente, ver a luz.
saio lá para fora e, curiosamente, vê-se o céu azul e o sol brilhar. mas o frio aperta... aconchego o casaco, encolho-me toda... entro dentro do táxi que já está à minha espera e vou em direcção ao meu destino. ou será até onde o destino me quiser levar? nunca sei. mas também não interessa. faço um sorriso. estou em londres. será que o resto interessa?


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