quarta-feira, 25 de junho de 2008

'na cadência do samba'

são duas da manhã. vou embalada no samba. parece que a semana não terminou e eu ainda estou na praia, a sentir a areia perder-se no meio dos dedos dos meus pés, a água a refrescar-me as mãos e a brisa suave do vento que de repente aparece, a soprar-me nos ouvidos. são duas da manhã mas ainda estou a viver no dia de ontem, no fim-de-semana de alguns dias atrás... ainda estou em pé, a dançar o samba, com as labaredas da fogueira feita à pressa a saltarem para todo o lado... ainda estou a sentir o efeito das risadas contínuas, dos gritos...
a verdade é que, só quem vive isto, só quem vê isto é que entende... quem não vê, quem não vive, quem não entra no espírito... nicles, népias, nada. não percebe o entusiasmo e torce o nariz às explicações... sim, sou fã! do espírito, do jogo, de tudo... a verdade é que ali só há lugar para sorrisos, para festas, para brincadeiras, para novas caras... ali só há lugar para companheirismo, palavras ditas nas mais variadas línguas e abraços de despedida... até ao próximo torneiro...
e de repente, volto ali. ao acampamento, a ouvir a canção... o som da guitarra, as palavras murmuradas e sinto que, sem dar por isso, esboço um sorriso... há coisas que a vida não nos consegue tirar... e isso só podem mesmo ser os bons momentos!!!

quarta-feira, 11 de junho de 2008

'blackout'

foi numa segunda-feira, meio que mergulhada na noite ou engolida pela noite. foi numa segunda-feira, a tua voz do outro lado e eu aqui, a caminhar de um lado para o outro na minha varanda. para trás, para a frente. para trás, para a frente. para trás. páro. o movimento do meu corpo, os meus passos desalinhados, para a frente, para trás, para a frente, para trás, nada disso me faz entender as tuas palavras, as tuas explicações. será que há palavras incompreensíveis? será que há imperceptíveis?
foi numa segunda-feira... o relógio marcava não sei que horas e eu apaguei as luzes para me esconder na noite. para me perder na noite. para a noite se infiltrar em mim. para fazer a noite esquecer-se de mim. foi numa segunda-feira que começou o meu silêncio. que deixei de ouvir a tua voz. que tive de deixar de ouvir a tua voz. foi numa segunda-feira...
foi numa segunda-feira, dessas perdidas no final do mês, que nos batem à porta e nos dizem que temos de ir trabalhar. foi numa segunda-feira que a tua voz me fez pedidos e me disse que não se queria esquecer de mim. foi numa segunda-feira que as coisas que pareciam tão simples passaram a ser demasiado complicadas. a ter explicações de hora e meia. foi numa segunda-feira dessas perdidas que eu tive medo das tuas palavras. tive medo das tuas palavras ainda antes de elas serem ditas e de a tua voz as dizer.
foi numa segunda-feira... daquelas que preferia que nunca tivessem existido. daquelas que queria esquecer que existiu. como algumas das palavras... daquelas que não compreendi. foi numa segunda-feira, daquelas em que o calor começava a despontar... sei que falei, sei que a minha voz emitiu sons, sei que abanei a cabeça, sei que tentei perceber... naquela segunda-feira...
foi numa segunda-feira que já passou... que ficou para trás. que ficou perdida no passado mas que existe no hoje. que continua por aqui. como por aqui continuam as tuas palavras, o som das tuas palavras a ecoar na minha cabeça. foi numa segunda-feira que eu tive de mudar as coisas... que eu tive de tentar esquecer-te... pelo menos um pouco...e de continuar a minha viagem pela vida. foi numa segunda-feira... talvez seja numa segunda-feira... que voltes a ouvir a minha voz... quando as cicatrizes tiverem sarado e as palavras incompreensíveis, imperceptíveis se tenham tornado menos claras... talvez seja numa segunda...